Olá a todos. O mundo furry sempre nos levar a pensar na natureza. Não que não haja isso nas grandes cidades, mas se há algo que deixe mais explícito essa busca se refere ao campo. Sim, o interior, a zona rural. Aquela que sempre nos faz sentir livres, frente aquela quietude. Mas, infelizmente, algo deve ser dito quanto a nossa realidade.
Decidi fazer este artigo depois refletir um pouco e achar que esse era o momento de expor o que anda ocorrendo no interior de nosso estados. Não é de agora que, para fugir da selva de pedra que se tornou os centros de nossos estados, mais precisamente nas capitais, recorremos ao interior dos mesmos para encontrarmos paz e tranqüilidade. Mas, em contra partida, percebi em alguns noticiários que crimes hediondos haviam sido cometidos por aquelas bandas. Surpreso pelo fato, achei muito estranho acontecer disso em um lugar que tinha tudo para ser um lugar tranqüilo. Mata atlântica por todos os lados, colinas cobertas por névoa ao amanhecer, fazendas e sítios por todos os lados, animais pastando e se banhando em lagoas, um ar límpido...
Bem, aconteceu. Toda aquela calmaria de cidades do interior já são coisas do passado. Já não é novidade ouvirmos em rádios, ou assistirmos pela tv alguma notícia trágica no interior. Zonas rurais se tornaram um pólo de crimes, como furtos e homicídios, e até mesmo alguns crimes bárbaros.
Num país onde a impunidade anda de mãos dadas com o crime não é de admirar que traficantes e assaltantes recorram ao interior para procurar refúgio, tendo em vista que nessa zona o policiamento é mais escasso e em muitos lugares até o acesso de veículos é difícil, tornando assim um tipo de porto seguro para criminosos.
Boa parte dos crimes cometidos no interior são de furtos (à residências e à automóveis) e até mesmo homicídios. Um artigo publicado na Revista Época mostra que isso é conseqüência do desenvolvimento. De acordo com a reportagem, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, que estuda a criminalidade brasileira a mais de uma década, explica por que a taxa de de homicídios por 100 mil habitantes cresceu mais no interior. “Cada lugar tem seus motivos. Há fatores locais, como contrabando de armas e drogas em municípios de fronteira, o que implica a existência de organizações criminosas, problemas com demarcação de terras e assentamentos nas áreas rurais. Mas também há fatores gerais. Desde o início dos anos 90, a economia no Brasil está sendo descentralizada. Indústrias e investimentos começaram a ser deslocados para o interior por causa de facilidades fiscais e da mão-de-obra mais barata. O interior se tornou pólo atrativo para a população e, em conseqüência, para a criminalidade. Por outro lado, as grandes cidades receberam mais investimentos do Fundo Nacional de Segurança Pública para combater a violência”.
Para ele, os resultados são surpreendentes. “Quando olhei pela primeira vez o mapa dos homicídios do Brasil, a minha imagem mental era terrivelmente midiática. Sempre vi e li muitas notícias de crimes no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Distrito Federal. De repente, descubro que o mapa está marcando uma enorme aglomeração de homicídios também em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, sul do Pará, Rondônia etc”.
Segundo Julio, por causa da interiorização do crime, pólos dinâmicos da violência estão se deslocando das capitais para o interior. O aumento foi considerável: entre 1994 e 1999, as taxas de homicídios das capitais e regiões metropolitanas cresceram 6,1% ao ano, enquanto no interior o aumento foi de 4,5% ao ano. Mas no período de 1999 a 2004 isso se inverteu. O crescimento foi de 0,8% ao ano nas capitais e regiões metropolitanas. E, no interior, o aumento foi de 5,3% ao ano. Dos 48.374 assassinatos ocorridos no Brasil em 2004, 40% foram no interior.
De acordo com seus estudos, Julio defende que “há municípios com febre alta e que precisam de médicos. Mas cada um dos problemas exige um remédio diferente. A solução não virá de uma política nacional, central. No ano passado, a OEI publicou o Mapa da Violência de São Paulo porque é o único Estado que, desde 1999, vem diminuindo sistematicamente a taxa de homicídios e de outros crimes. Queríamos saber por quê”.
O porquê de SP ter diminuído a taxa de criminalidade é que há “instituições da sociedade civil, como o Instituto São Paulo Contra a Violência, que reúne a Rede Globo, a USP, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e diversas outras empresas, começaram a demandar ações do poder público. Com a criação do Fórum Metropolitano de Segurança Pública, medidas passaram a ser implementadas pelas prefeituras, como a lei seca em 16 municípios. Projetos como escola aberta e de teatro para a comunidade também contribuíram para a redução. Com tudo isso, a criminalidade na capital e na região metropolitana caiu drasticamente.” Ainda de acordo com o sociólogo, o grande problema é que o interior não foi beneficiado por esta manifestação e, por isso, acredita-se que seja o motivo da debandada de criminosos para zonas menos privilegiadas.
Outro ponto a ser levantado é com relação aos jovens em relação à homicídios (Oito de cada dez homicídios de jovens que têm entre 15 e 24 anos ocorrem em 10% dos municípios. A maioria em áreas turísticas, metropolitanas ou pólos de desenvolvimento regional.). Julio diz que “A rebeldia e o confronto juvenil são mais comuns nas grandes cidades, em áreas urbanas. As taxas gerais de homicídios são maiores nos pequenos municípios. Mas, quando se trata de jovens, os assassinatos ocorrem principalmente em cidades de grande porte”.
Ele também frisa que “a crueldade sempre existiu. O que acontece é que esses episódios vão se avolumando com o tempo. Desde o início dos anos 90, o aumento dos homicídios foi de 5,5% ao ano, aproximadamente. Os números só começaram a cair a partir de 2004. Vida e morte se tornaram banais”, ligando com a crescente banalização da violência nas grandes cidades. “Só 10% dos assassinatos são punidos no Brasil. Quanto maior é a impunidade, maior é a violência”.
A vida do interior deixou de ser um lugar onde reinava a quietude. Toda aquela inocência parece ter se partido em mil pedaços e se tornado uma imensa colcha de retalhos, onde muitos ainda insistem em dizer que “nada mudou”. Exatamente. Nada mudou, e por isso é ruim. Nenhuma política sólida de segurança foi criada para coibir a crescente onda de crimes no interior.
Em uma reportagem da TV Globo junto a Reuters, publicada no Jornal O Globo e realizada em 27/02/2007, mostra que “um fenômeno que os especialistas atribuem aos novos pólos de crescimento econômico e à falta de ações de segurança do governo no interior. Municípios onde o setor público atua pouco porque são longes e distantes. São terra de ninguém”, afirma Julio Jacobo.
De acordo com a reportagem, na apresentação do estudo, o ministro da Saúde, Agenor Alves, afirmou que "os dados não são nada animadores'', mas disse que eles servirão para a adoção de políticas públicas focalizadas. Isso, para o ministro, foi algo que o conturbou, e o fez ver que a situação é preocupante.
Ainda usando dados da reportagem, o Brasil registrou 48.345 homicídios em 2004, e é considerado o quarto país com mais assassinatos, atrás de Colômbia, Rússia e Venezuela. Mas Waiselfisz acredita que o total de homicídios no Brasil seja 15% maior que o oficial, devido à subnotificação. Nesses casos, disse ele, as vítimas são enterradas em cemitérios clandestinos ou simplesmente abandonadas em lugares ermos, nas selvas ou nos rios.
Aproveitando um comentário de um usuário do jornal O Globo no rodapé da reportagem expressou sua opinião ao fato, e definem bem a mensagem a qual o artigo quer passar ao leitor. Suas palavras mostram a verdade:
“Ora, o crime está aumentando nas cidades do interior por razões óbvias.Não precisamos de pesquisas alienígenas para demonstrar isto. Além das razões sociais e econômicas sobejamente conhecidas, sempre que aumenta a repressão nas capitais, boa parte da bandidagem muda de endereço momentaneamente. Procura as cidades onde os efetivos policiais são reduzidos, omissos ou inoperantes. Tem como alvos os delinqüentes desocupados, contumazes em delitos menores, impunes, vivendo sem quaisquer esperanças.”
Algumas ocorrências em municípios do Brasil:
Macaé-RJ:
http://www.macaejornal.com.br/macae/conteudo/materia.asp?codigoM=3615&codigo=74
http://www.cidadaomacaense.com/materias/011.htm
Riachinho-MG:
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1395629-EI5030,00.html
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1405759-EI5030,00.html
São Roque-SP:
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL50767-5605,00.html
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2007/09/10/quarenta_detentos_fogem_da_prisao_de_sao_roque_interior_de_sp_996951.html
Campo Mourão-PR:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u127911.shtml
Porto União-SC:
http://www.pm.sc.gov.br/website/rediranterior.php?site=40&act=1&id=1398
Juara-MT
http://www.overbo.com.br/modules/news/article.php?storyid=4500
Dourados-MS:
http://www.campograndenews.com/geral/view.htm?id=395817&ca_id=9
Jacinópolis II-RO:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/03/377196.shtml
Porto Alegre (reportagem sobre criminalidade no interior/2001):
http://http://www.policiaeseguranca.com.br/cidades.htm
Terminando, espero que daqui para frente, antes de rotularem cidades do interior como lugares livres da violência urbana, lembrem-se de que não há lugar seguro no mundo. Por mais calmo que for o local, desconfie. Tragédias não escolhem momento nem hora. Para evitá-las, basta ter cuidado por onde anda. Nunca pense estar 100% seguro.
No país onde moramos, a segurança é algo muito relativo.
Colaboraram para esse artigo: Ronan, Darklion e Seth.
Sites usados para esse artigo:
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/02/27/294725817.asp
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76503-6014,00.html